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Como construir um vilão?

Galeria Passe Vite, Lisboa
14 de Junho de 2023 a 29 de Julho de 2023 - extendida até 2 de Agosto

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Passo 1: dê-lhe um rosto - pode ser o seu;

 

Passo 2: trauma, intensidade, personalidade forte; 

 

Passo 3: pensar num desejo que guie a jornada da vilã; 

 

Passo 4: um animal de companhia; talvez uma cabra; 

 

Passo 5: usar um medo pessoal para criar a vilã; 

 

Passo 6: desenhá-la com cor e ambiguidade moral.


 

A mais recente exposição individual de Madalena Pequito fala-nos de preocupações tão pessoais e particulares como universais. As obras, sempre coloridas, contam-nos histórias sobre o percurso da artista - as suas conquistas, as suas derrotas, os seus medos e expectativas - e a forma como somos simultaneamente o herói e o vilão das nossas histórias individuais. No seu último corpo de trabalho, a artista despe-se com coragem e sensibilidade e, de alguma forma, no seu trabalho, vemos os nossos defeitos, os nossos desejos, os nossos medos. Desde regar os nossos desejos e esperar que cresçam, até aprender a celebrar as nossas vitórias na vida, sejam elas grandes ou pequenas, a exposição é sobre dualidade e a sua importância na vida. Um herói não pode existir sem um vilão, o bem não pode existir sem algum mal. Os vilões, tanto dentro como fora de nós, existem para que as partes heróicas possam ser realçadas e ela fá-lo admitindo as partes mais antagónicas de si própria, contrastando com desenhos intensamente vibrantes e coloridos. Entendo uma exposição como uma narrativa, uma mostra como uma história, normalmente com um princípio, um meio e um fim. "O enredo de uma história começa por dar o motivo da vilania do vilão". (Cole, 2004). Os desejos que motivam a nossa vilã são claros e "insanos" - uma vida digna como artista, o desejo de ter uma casa, de criar uma família, de ver igualdade no mundo. A falta de voz vivida no dia-a-dia é suficiente para enlouquecer uma pessoa. Pensando nos passos do início do texto, estamos agora rodeados de todo o tipo de vilania materializada num só corpo - o corpo de trabalho e o de Pequito. E este conceito torna-se ainda mais interessante quando conjugado com a noção de feminilidade, pois por detrás de cada máscara de bruxa existe uma mulher e o mundo está repleto de anti-heróis do feminino. Acima de tudo, quando se fala em narrativa, "a inclusão de uma vilã pode dizer ao leitor o que o autor pensa sobre a sua sociedade. O leitor pode imaginar-se fora de uma vida aprisionante ao ler sobre uma mulher que age fora dos limites sociais" (Cole, 2004). O mesmo se pode dizer desta exposição, onde a artista explora a construção de uma vilã. 

 

 

Texto de 

Maria de Brito Matias

Madalena Pequito

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